As experiências que um intercâmbio traz para vida de um jovem que decide sair do conforto do seu lar para viver um tempo em um país distante, de língua e cultura diferentes são inúmeras, desde aprender outro idioma, cozinhar, andar em transporte público em lugares nunca visitados, entre outras. Duas alunas do curso de Administração do campus de São Bernardo do Campo da FEI, além de buscar esses aprendizados queriam ser úteis no local onde estivessem e, por isso, escolheram um lugar pouco procurado para intercâmbios e carente de ajuda humanitária, o continente africano.

Após quase dois anos trabalhando em uma grande empresa de telecomunicações, Eliane Ribeiro de Oliveira pediu demissão para correr atrás de um sonho que estava em sua cabeça há pelo menos uns três anos e, embora tenha escolhido a África do Sul como destino, a agência responsável pelo intercâmbio acabou enviando a aluna para Cape Town, um lugar reconhecido pela diversidade cultural, mas, sobretudo pela pobreza e discriminação racial.
Durante quatro semanas Eliane trabalhou em uma creche com crianças de 0 a 6 anos (havia 52 crianças para 4 professores), onde encontrou histórias que mexeram com o seus sentimentos e com o seu modo de ver a vida, como casos de crianças órfãs que passavam o dia na creche e depois iam para orfanatos; outras, vítimas de agressão ou com responsabilidades de adultos. “Vivenciei coisas nessas quatro semanas que jamais imaginava existir, mas o que realmente me marcou foi o fato daquelas crianças estarem sempre sorrindo, nunca reclamarem de nada e agradecerem pelo pouco que tinham, pois a fé delas é realmente uma coisa muito linda”, lembra Eliane.
A aluna de Administração da FEI tinha como missão ajudar os professores nas aulas, cuidar das crianças, alimentá-las, trocar fraldas, brincar, ajudar na limpeza e outras atividades que fizeram Eliane colocar em prática os valores humanísticos, um dos principais ensinamentos da FEI.
“A pureza e a forma com que eles lidam com a vida é surpreendente. Muita gente disse que eu era louca por largar o meu emprego e ir fazer trabalho voluntário na África, que o melhor era ir fazer compras em Miami. Mas isso só serviu como um incentivo e me fez perceber que sair da zona de conforto é muito bom. Confesso que foi a melhor experiência de voluntariado, pois fui para ensinar, mas no fim quem acabou aprendendo e levando várias lições fui eu”, relatou Eliane.
Em busca do crescimento pessoal
Ir para a África também sempre foi um sonho da aluna Caroline Kurowski Rodrigues, mas algumas barreiras como o medo e insegurança de sua mãe, que temia pela segurança da filha impedia a jovem de realizá-lo. Mesmo assim, Caroline viu nas suas férias a oportunidade de realizar o tão sonhado intercâmbio. É claro que a maioria das pessoas, assim como aconteceu com a sua colega Eliane, pensaram que ela estava louca por querer ir para a África. De fato, a maioria dos jovens prefere fazer intercâmbio em países desenvolvidos, onde podem passear nos melhores pontos turísticos, ir a festas e se divertir como nunca, mas a vontade de Caroline era diferente.

Segundo a aluna, escolher uma experiência como a que ela se propôs viver tem muito a ver com o que o ser humano é, e o que ele gostaria de se tornar. “A maioria dos jovens de hoje é feliz vivendo a rotina de faculdade e trabalho, e pensam que isso é o suficiente para alimentar a alma, mas não é; por isso, se eu realmente quisesse me tornar uma pessoa melhor eu precisava de algo a mais, e a ida para a África com certeza mudou totalmente aquilo que eu era antes”, explica Carolina.
Por meio da maior organização estudantil, a AIESEC (www.aiesec.org.br), a aluna conseguiu entrevistas em quase todos os países da África, e conversando com pessoas que já tiveram essa experiência e com muita pesquisa escolheu Ghana. Um país pobre, mas lindo e seguro, segundo a aluna. “Entre todas as opções que tinha eu escolhi o que diriam ser o pior lugar. Minha entrevista foi em uma lanhou-se e eu trabalharia na ilha Azizakpe, que fica em Ada Foah / Ada – Ghana e não tem energia elétrica. Ao chegar à ilha pela primeira vez, me senti como se estivesse entrando em um filme. O lugar era maravilhoso, as pessoas adoráveis, e as crianças precisavam de mim mais do que em qualquer outro lugar”, contou Caroline.
Durante o mês em que esteve no país, Caroline deu aulas de inglês para as crianças da ilha, que todos os dias faziam questão de correr felizes ao seu encontro sempre que o barco que a trazia chegava. “Ensinei inglês para crianças que só falavam a língua da ilha, enquanto galinhas, porcos e bodes passeavam pela escola e invadiam minha sala, e ainda as ensinei a nadar no imenso rio que as cercavam. Visitei casas para convencer as famílias a deixarem os filhos irem para a escola e descobri que lá ninguém é tratado como criança. Trabalham muito, apanham o dobro e desde muito cedo têm relações sexuais, mas que mesmo assim são puras, ingênuas e felizes”, relata a aluna.
Como acontece na grande maioria dos países africanos, Caroline também viu pessoas passando fome, e tomando a água do rio (a mesma que usam como banheiro, para tomar banho e cozinhar), e mesmo assim nunca ficam doentes. “Na escola em que trabalhei faltava desde livros a professores, mas ao mesmo tempo tinha tudo o que uma escola gostaria de ter: alunos maravilhosos com uma vontade absurda de aprender”, conta a aluna.

Infelizmente o espaço que temos neste veículo de comunicação é pequeno para o tamanho da experiência vivida pelas alunas da FEI, que fizeram questão de compartilhar que um de seus maiores aprendizados na experiência foi entender que coisas que antes achavam essenciais como chuveiro quente, energia elétrica e talheres não são o que faz a diferença na vida. “Enfrentei muitos desafios e passei por dificuldades, que me fizeram entender que não precisamos de muito para sermos felizes e o porquê agradecer todas as vezes que comemos. Situações, pessoas e principalmente crianças que me fizeram mudar”, relatou Caroline.
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Matéria publicada no jornal Circuito FEI – Nº15 (pág 14)